sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Esperar é sim saber!


Ah sim, a espera. Não, não somos treinados para esperar. Crescemos aprendendo a fazer a coisa acontecer. Tudo é muito rápido. Os “fat-foods” (sim, troquei fast por fat de propósito!), os instantâneos, o micro-ondas, e até a internet já se tornaram incapazes de acompanhar nosso ritmo acelerado e louco que não espera nada nem ninguém.

Enquanto escrevo esse breve ponto de vista meu e-mail está aberto, atento à qualquer nova correspondência eletrônica (imagine ter de esperar o carteiro!), o facebook me notifica alguma possível atualização e enquanto penso nas melhores palavras aproveito para trabalhar no meu TCC, além é claro de conversar sobre gastronomia com minha esposa. Estaria usando sms se as fronteiras da Tim não me impedissem. Assim é a vida hoje. Não há tempo para fazer uma coisa de cada vez e me pergunto até de onde você está tirando tempo para ler esse post.

Com tamanhas facilidades, tamanha velocidade e um matrix tomando conta do mundo, atrofiamos cada vez mais nossa capacidade de esperar. Não falo apenas de esperar a namorada ideal, o sapo que vai virar príncipe ou o emprego dos sonhos de Deus. Absolutamente! O que me preocupa é que não sabemos mais esperar por NADA! O download que não acaba, a internet que está lenta, o miojo que não fica pronto logo e o fim do mundo que nunca chega são apenas a ponta de um iceberg que não sabe mais como esperar o próximo metrô na plataforma.

Desculpe nobre Chico, mas
Esperar é sim saber
Quem sabe faz a hora
Enquanto espera acontecer

Já dizia Napoleão que "a impaciência é um grande obstáculo para o bom êxito." Sempre que não esperamos perdemos. O contrário da espera, que no português poderia ser o des-espero apenas nos faz sofrer. O menor dos prejuízos de quem não espera é a perda de sua saúde. Pior que a conta do hospital, do psicólogo e do asilo é a perda da família, dos amigos e da cabeça. A gastrite, a úlcera e o câncer não serão nada se comparados à felicidade perdida, à família perdida e à história esquecida. 

O Mestre por excelência aconselhou-nos mais de 2 mil anos atrás: “Quem de vocês, por mais que se preocupe, pode acrescentar uma hora que seja à sua vida?”, “Será que com todas as preocupações juntas poderão acrescentar um único momento à vida de vocês?” (Mateus 6:27 – NVI e BV respectivamente). Ah, esperar. A espera é o que nos faz crescer, nos ensina a viver e nos mostra como confiar. Não seria quem hoje sou não fosse pelos anos que tive que esperar enquanto me tornava em quem sou. Sim, esperar é sim saber. Claro que a espera nem sempre (eu disse nem sempre) é cruzar os braços e ver a banda passar, nisso concordo com o Chico. Mas a espera é sem dúvida mais que uma oportunidade de ser feliz, a espera é uma escola. Paciência, coragem e fé são sinônimos que dão testemunho aos expectantes de nossa vida.

Esperança e paciência são precedentes para a perseverança que por fim traz a vitória. Desespero e impaciência, entretanto, nos levam a perder mesmo a musica da banda que passa cantando coisas de amor. Constantemente reclamando da banda nos esquecemos que também fazemos parte dela – talvez apenas tocando um pouco mais desafinadamente.

Tenho visto um enorme grupo de jovens cristãos espalhados Brasil a fora declarando ter escolhido esperar. Esses merecem nosso respeito e honra. Sim, esperar é uma escolha difícil, mas que vale à pena.

sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Black Friday



Foi só em 2010 que a antiga prática norte-americana de usar a quarta sexta-feira de novembro para vender “a rodo” online chegou ao Brasil.

A Black Friday tem suas raízes ligadas ao dia de Ação de Graças e, tanto aqui como no mundo norte-americano, tem a função de fomentar o consumismo desenfreado. Uma sexta-feira negra, mas cheia de brilho e glamour, além é claro de muito dinheiro.

Não importa quanto o produto custava, se é Black Friday pode ter até 80% off. E isso, os compradores adoram, afinal, quem não gosta de pagar menos do que o produto realmente vale? Quem não gosta de uma pechincha?

Lembro-me da primeira “Black Friday” conhecida pela história da humanidade. Era dia de pagamento, mas sem promoção. As contas seriam acertadas e o valor pago, mas o valor era extremamente alto e não havia como barganhar. Creio que nunca houve uma Friday tão Black como aquela, era a sexta mais escura já presenciada pela natureza.

Na vitrine estava a salvação da humanidade. O preço era altíssimo e não tinha desconto. Nada menos do que o valor exigido seria aceito como pagamento. 0%off. Apenas um homem tinha condições de pagar tão alto preço. O valor deveria ser real, aquela compra não poderia ser efetuada online, e, ao contrário dos atuais Black Friday’s, não havia uma infinidade de opções. Na verdade só haviam duas possibilidades: pegar ou largar, sem direito a reclamações ou trocas.

Consigo imaginar o motivo de tantas trevas. A natureza se lembrava de uma outra Friday onde a luz brilhou pela primeira vez para a humanidade. Naquela primeira Friday ouviu-se uma forte voz dizendo: “Terminei!” E agora ouvia-se a mesma voz, dessa vez trêmula, dizendo: “Terminei!” As mais brilhantes estrelas cantavam de alegria naquela primeira Friday, mas dessa vez não havia luz, tudo era densamente black. Mas com luz ou sem ela a negociação deveria ser feita. Antes que se ouvisse o fechamento da compra podemos ver o preço. Aquela cara compra custaria sangue, suor e lágrimas, mas para o Comprador valeria à pena.

“Está muito caro”, alguns diriam. “Não vale à pena”, concluiriam outros. Mas para o comprador, pagar aquele preço era uma missão, missão onde Ele não poderia falhar. Não havia como voltar para casa sem a transição efetuada. Suas vestes entram no pagamento, Ele as dá. Sangue é exigido, Ele dá sem hesitar. Sua dignidade é solicitada, sem pensar Ele entrega. Não importa o que custasse, Ele estaria disposto a pagar.

Por fim, a compra é feita. A única compra daquela Black Friday. Mas ao chegar em casa, Ele constata que veio com defeito. Seu pagamento foi completo, mas a mercadoria estava defeituosa. Ele não perde tempo relendo o contrato, conhecia bem as clausulas, e, mesmo que fosse permitido, Ele não exigiria devolução. Ele estava ciente quando comprou. Sabia que tinha defeito, sabia que era incompleto. Por isso comprou. Comprou a fim de consertar.

Hoje, Ele ainda está consertando. Não porque não tenha experiência ou seja lento para consertar, o que acontece é que constantemente o produto se quebra. Sem reclamar, Ele novamente conserta. Cada conserto é como um recomeço. Cada Friday Ele se lembra daquela perfeita sexta em que criou a mercadoria. Sim, Ele mesmo fez, Ele fabricou, mas perdeu. Com um leve sorriso de canto então Ele se lembra da segunda sexta, aquela da qual até aqui falamos. O dia da grande compra. O melhor negócio que Ele poderia ter feito. Aquela foi a compra perfeita, porque, mesmo que constantemente a mercadoria se quebre e Ele tenha que consertar, é isso o que Ele mais ama.

Pagou o preço não porque precisava de tal mercadoria. Pelo contrário, comprou porque a mercadoria precisava dEle.

Happy Light Friday to you que foi criado numa Friday de luz, se perdeu e então foi novamente comprado naquela Black Friday, sem descontos, sem pechincha e por um valor muito maior do que você imagina!
 

domingo, 11 de novembro de 2012

Credenciais, por favor...




Ainda nessa semana tive uma oportunidade que posso considerar, no mínimo, muito interessante. Há meses eu aguardava e, quando menos esperava, finalmente o dia chegou. Acordei as 3:00hs e fui em direção ao hospital Mandaqui, em São Paulo. Lá deveria fazer uma ressonância magnética.

Não consideraria tal exame interessante não fosse pelas instruções que me foram fornecidas. Fui muito bem atendido em todos os momentos até que finalmente fui chamado pelo nome pela pessoa responsável pelo exame. Ao ser conduzido até a sala onde informações prévias deveriam ser coletadas, sequer me preocupei em saber o nome da pessoa que me atendia. Após preencher alguns formulários e assinar trocentos papéis, fui conduzido até a sala da ressonância pela mesma pessoa, mas ainda sem saber seu nome, formação ou qualquer outra informação mínima.

Daí pra frente os procedimentos foram muito simples. Tudo o que eu precisava fazer era obedecer tudo o que ela me dizia. Diga-se de passagem, as instruções eram bastante objetivas: deite-se, não se mexa, não pisque (isso mesmo, não pisque!) por aproximadamente 25 minutos. Considerando que não suportaria tanto tempo sem piscar, ela sugeriu-me ficar de olhos fechados. Brilhante ideia! Agora estava eu dentro de um tubo gigante, sem poder fazer o menor movimento, com o barulho de uma máquina de lavar velha, betoneiras e furadeiras ao fundo e sem poder ver nada! Cerca de meia hora depois percebo que estou saindo. Recebo uma nova orientação: não se mexa, não abra os olhos, você vai sentir uma picadinha apenas. Ok, eu não podia me mexer, não sabia o que estava acontecendo e alguém que eu sequer sabia o nome, CRM ou qualquer coisa do tipo estava prestes a injetar algo em minha veia e eu sequer sabia o que era aquilo.

No fim das contas eu sobrevivi e a médica (continuo sem saber o nome dela) não me deu nenhum tipo de injeção letal. Mas fiquei pensando em quanta confiança depositei em alguém que nunca havia visto. Pensei então em cada ônibus em que viajei sem verificar a CNH do motorista ou mesmo sem saber o seu nome e em cada prefeito e vereador que não acompanho o dia a dia para saber se está de fato trabalhando. Em cada policial que me parou na estrada e nunca pedi suas credenciais (nunca faça isso também!). Como posso confiar assim em alguém que não conheço ou sequer sei o nome?

Se você está começando a desconfiar que quero aqui fazer uma comparação com a fé que deve ser exercida em Deus, sinto em desapontá-lo mas não é esse o meu objetivo. O que quero na verdade dizer é que isso que levou-me a entrar no tubo, ou no ônibus, ou em qualquer outro lugar nada tem que ver com fé! Talvez, tomando emprestado o termo de um brilhante professor, posso chamar essas atitudes de fideísmo, uma fé cega, emotiva e irracional. E isso nada tem que ver com a relação que Deus espera de nós.

Sempre que vejo, na Bíblia, a relação entre Deus e o homem, encontro sim uma relação de confiança, de fé ardente, mas não de fideísmo ou fé cega. Mesmo o chamado “Pai da Fé” teve sua confiança fundamentada numa relação anterior, num conhecimento profundo dAquele em quem confiava. Fico maravilhado ao ler o relato da promessa de Deus a Abraão. Deus aparece a Abraão e a primeira coisa que o pai da fé faz é questionar a Deus (cf. Genesis 15:2). Que fé hein Abraão?! Sim, a fé de Abraão precisaria de uma base, um fundamento e por isso ele questiona a Deus. YHWH então leva Abraão para fora e dá uma tremenda evidencia de ser Digno de confiança. “Vê todas essas estrela? São muitas não é mesmo? Você é capaz de conta-las? Fui Eu quem fiz todas, será que algo é impossível para Mim?”. A fé de Abraão, diferente da pseudo-fé que exercemos em desconhecidos tinha muito mais que ver com a relação e intimidade que ele aprendeu a desenvolver com Deus.

Diferente do motorista que não apresenta a CNH, do médico que não apresenta o CRM e mesmo do policial que não apresenta a credencial, Deus apresenta de maneira clara Suas credenciais. “Eu Sou” diz Ele, e isso é o bastante! “Louvado seja Deus! Quando vejo o que Deus tem executado, encho-me de admiração e de confiança na liderança de Cristo. Nada temos que recear quanto ao futuro, a menos que esqueçamos a maneira em que o Senhor nos tem guiado, e os ensinos que nos ministrou no passado.” (3ME, 162). Sim! Os poderosos feitos de Deus na história da humanidade e na minha história são mais do que bastante para fortalecer minha fé nEle. Eu O conheço, por isso confio nEle.

Deus não é o médico anônimo que te pede para fechar os olhos durante todo o procedimento. Deus é o Deus que te leva até Sua sala e mostra todos os Seus “diplomas”, que te leva para fora e apresenta tudo o que já fez no passado. O Deus que responde suas mais céticas dúvidas e te dá a certeza de que Ele existe e de que é capaz de cumprir o que está prometendo. Fé cega? Não, não é necessário. Me explico: há muito mais do que boas razões para crer nEle e confiar que cumprirá o que promete. Assim a fé não está fundamentada no nada, mas no passado. Então posso questionar a Deus? Bem, Abraão questionou e Deus o respondeu!

Não terei a oportunidade de voltar ao Mandaqui para pedir os dados e a CRM de quem me atendeu, nem mesmo de perguntar o seu nome, tudo o que fiz foi “confiar” cegamente, se é que isso é possível, mas Deus nos oferece muito mais do que isso. Ele permite que confiemos nEle como confiamos no pai, na mãe, no melhor amigo. E por que confiamos nessas pessoas? Simplesmente porque alguém disse que poderíamos confiar? Simplesmente pelo título que eles recebem? (Conheço pessoas que não confiam nos pais, apesar de chama-los de pai e mãe). Deus quer que saibamos Seu nome, que O conheçamos e, por conhece-lO, confiemos nEle. Ainda quando eu e Ele formos muito amigos, a confiança não será cega, pois sempre estará baseada em nosso relacionamento e passado. E essa experiência será muito mais proveitosa do que entrar num tubo de olhos fechados e nunca saber o que aconteceu lá dentro.

A fé? Depois dos questionamentos e das evidências dadas, então “creu Abrão no Senhor, e o Senhor imputou-lhe isto como justiça” (Genesis 15:6).