sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Black Friday



Foi só em 2010 que a antiga prática norte-americana de usar a quarta sexta-feira de novembro para vender “a rodo” online chegou ao Brasil.

A Black Friday tem suas raízes ligadas ao dia de Ação de Graças e, tanto aqui como no mundo norte-americano, tem a função de fomentar o consumismo desenfreado. Uma sexta-feira negra, mas cheia de brilho e glamour, além é claro de muito dinheiro.

Não importa quanto o produto custava, se é Black Friday pode ter até 80% off. E isso, os compradores adoram, afinal, quem não gosta de pagar menos do que o produto realmente vale? Quem não gosta de uma pechincha?

Lembro-me da primeira “Black Friday” conhecida pela história da humanidade. Era dia de pagamento, mas sem promoção. As contas seriam acertadas e o valor pago, mas o valor era extremamente alto e não havia como barganhar. Creio que nunca houve uma Friday tão Black como aquela, era a sexta mais escura já presenciada pela natureza.

Na vitrine estava a salvação da humanidade. O preço era altíssimo e não tinha desconto. Nada menos do que o valor exigido seria aceito como pagamento. 0%off. Apenas um homem tinha condições de pagar tão alto preço. O valor deveria ser real, aquela compra não poderia ser efetuada online, e, ao contrário dos atuais Black Friday’s, não havia uma infinidade de opções. Na verdade só haviam duas possibilidades: pegar ou largar, sem direito a reclamações ou trocas.

Consigo imaginar o motivo de tantas trevas. A natureza se lembrava de uma outra Friday onde a luz brilhou pela primeira vez para a humanidade. Naquela primeira Friday ouviu-se uma forte voz dizendo: “Terminei!” E agora ouvia-se a mesma voz, dessa vez trêmula, dizendo: “Terminei!” As mais brilhantes estrelas cantavam de alegria naquela primeira Friday, mas dessa vez não havia luz, tudo era densamente black. Mas com luz ou sem ela a negociação deveria ser feita. Antes que se ouvisse o fechamento da compra podemos ver o preço. Aquela cara compra custaria sangue, suor e lágrimas, mas para o Comprador valeria à pena.

“Está muito caro”, alguns diriam. “Não vale à pena”, concluiriam outros. Mas para o comprador, pagar aquele preço era uma missão, missão onde Ele não poderia falhar. Não havia como voltar para casa sem a transição efetuada. Suas vestes entram no pagamento, Ele as dá. Sangue é exigido, Ele dá sem hesitar. Sua dignidade é solicitada, sem pensar Ele entrega. Não importa o que custasse, Ele estaria disposto a pagar.

Por fim, a compra é feita. A única compra daquela Black Friday. Mas ao chegar em casa, Ele constata que veio com defeito. Seu pagamento foi completo, mas a mercadoria estava defeituosa. Ele não perde tempo relendo o contrato, conhecia bem as clausulas, e, mesmo que fosse permitido, Ele não exigiria devolução. Ele estava ciente quando comprou. Sabia que tinha defeito, sabia que era incompleto. Por isso comprou. Comprou a fim de consertar.

Hoje, Ele ainda está consertando. Não porque não tenha experiência ou seja lento para consertar, o que acontece é que constantemente o produto se quebra. Sem reclamar, Ele novamente conserta. Cada conserto é como um recomeço. Cada Friday Ele se lembra daquela perfeita sexta em que criou a mercadoria. Sim, Ele mesmo fez, Ele fabricou, mas perdeu. Com um leve sorriso de canto então Ele se lembra da segunda sexta, aquela da qual até aqui falamos. O dia da grande compra. O melhor negócio que Ele poderia ter feito. Aquela foi a compra perfeita, porque, mesmo que constantemente a mercadoria se quebre e Ele tenha que consertar, é isso o que Ele mais ama.

Pagou o preço não porque precisava de tal mercadoria. Pelo contrário, comprou porque a mercadoria precisava dEle.

Happy Light Friday to you que foi criado numa Friday de luz, se perdeu e então foi novamente comprado naquela Black Friday, sem descontos, sem pechincha e por um valor muito maior do que você imagina!
 

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