Ainda nessa semana tive uma oportunidade que posso
considerar, no mínimo, muito interessante. Há meses eu aguardava e, quando
menos esperava, finalmente o dia chegou. Acordei as 3:00hs e fui em direção ao
hospital Mandaqui, em São Paulo. Lá deveria fazer uma ressonância magnética.
Não consideraria tal exame interessante não fosse pelas
instruções que me foram fornecidas. Fui muito bem atendido em todos os momentos
até que finalmente fui chamado pelo nome pela pessoa responsável pelo exame. Ao
ser conduzido até a sala onde informações prévias deveriam ser coletadas,
sequer me preocupei em saber o nome da pessoa que me atendia. Após preencher
alguns formulários e assinar trocentos
papéis, fui conduzido até a sala da ressonância pela mesma pessoa, mas ainda sem
saber seu nome, formação ou qualquer outra informação mínima.
Daí pra frente os procedimentos foram muito simples. Tudo o
que eu precisava fazer era obedecer tudo o que ela me dizia. Diga-se de
passagem, as instruções eram bastante objetivas: deite-se, não se mexa, não
pisque (isso mesmo, não pisque!) por aproximadamente 25 minutos. Considerando
que não suportaria tanto tempo sem piscar, ela sugeriu-me ficar de olhos
fechados. Brilhante ideia! Agora estava eu dentro de um tubo gigante, sem poder
fazer o menor movimento, com o barulho de uma máquina de lavar velha,
betoneiras e furadeiras ao fundo e sem poder ver nada! Cerca de meia hora
depois percebo que estou saindo. Recebo uma nova orientação: não se mexa, não
abra os olhos, você vai sentir uma picadinha apenas. Ok, eu não podia me mexer,
não sabia o que estava acontecendo e alguém que eu sequer sabia o nome, CRM ou
qualquer coisa do tipo estava prestes a injetar algo em minha veia e eu sequer
sabia o que era aquilo.
No fim das contas eu sobrevivi e a médica (continuo sem
saber o nome dela) não me deu nenhum tipo de injeção letal. Mas fiquei pensando
em quanta confiança depositei em alguém que nunca havia visto. Pensei então em
cada ônibus em que viajei sem verificar a CNH do motorista ou mesmo sem saber o
seu nome e em cada prefeito e vereador que não acompanho o dia a dia para saber
se está de fato trabalhando. Em cada policial que me parou na estrada e nunca
pedi suas credenciais (nunca faça isso também!). Como posso confiar assim em
alguém que não conheço ou sequer sei o nome?
Se você está começando a desconfiar que quero aqui fazer uma
comparação com a fé que deve ser exercida em Deus, sinto em desapontá-lo mas
não é esse o meu objetivo. O que quero na verdade dizer é que isso que levou-me
a entrar no tubo, ou no ônibus, ou em qualquer outro lugar nada tem que ver com
fé! Talvez, tomando emprestado o termo de um brilhante professor, posso chamar
essas atitudes de fideísmo, uma fé
cega, emotiva e irracional. E isso nada tem que ver com a relação que Deus
espera de nós.
Sempre que vejo, na Bíblia, a relação entre Deus e o homem,
encontro sim uma relação de confiança, de fé ardente, mas não de fideísmo ou fé cega. Mesmo o chamado “Pai
da Fé” teve sua confiança fundamentada numa relação anterior, num conhecimento
profundo dAquele em quem confiava. Fico maravilhado ao ler o relato da promessa
de Deus a Abraão. Deus aparece a Abraão e a primeira coisa que o pai da fé faz
é questionar a Deus (cf. Genesis 15:2). Que fé hein Abraão?! Sim, a fé de
Abraão precisaria de uma base, um fundamento e por isso ele questiona a Deus.
YHWH então leva Abraão para fora e dá uma tremenda evidencia de ser Digno de
confiança. “Vê todas essas estrela? São muitas não é mesmo? Você é capaz de conta-las?
Fui Eu quem fiz todas, será que algo é impossível para Mim?”. A fé de Abraão,
diferente da pseudo-fé que exercemos em desconhecidos tinha muito mais que ver
com a relação e intimidade que ele aprendeu a desenvolver com Deus.
Diferente do motorista que não apresenta a CNH, do médico
que não apresenta o CRM e mesmo do policial que não apresenta a credencial,
Deus apresenta de maneira clara Suas credenciais. “Eu Sou” diz Ele, e isso é o
bastante! “Louvado seja Deus! Quando vejo o que Deus tem executado, encho-me de
admiração e de confiança na liderança de Cristo. Nada temos que recear quanto ao futuro, a menos que esqueçamos a
maneira em que o Senhor nos tem guiado, e os ensinos que nos ministrou no
passado.” (3ME, 162). Sim! Os poderosos feitos de Deus na história da
humanidade e na minha história são mais do que bastante para fortalecer minha
fé nEle. Eu O conheço, por isso confio nEle.
Deus não é o médico anônimo que te pede para fechar os olhos
durante todo o procedimento. Deus é o Deus que te leva até Sua sala e mostra
todos os Seus “diplomas”, que te leva para fora e apresenta tudo o que já fez
no passado. O Deus que responde suas mais céticas dúvidas e te dá a certeza de
que Ele existe e de que é capaz de cumprir o que está prometendo. Fé cega? Não,
não é necessário. Me explico: há muito mais do que boas razões para crer nEle e
confiar que cumprirá o que promete. Assim a fé não está fundamentada no nada,
mas no passado. Então posso questionar a Deus? Bem, Abraão questionou e Deus o
respondeu!
Não terei a oportunidade de voltar ao Mandaqui para pedir os
dados e a CRM de quem me atendeu, nem mesmo de perguntar o seu nome, tudo o que
fiz foi “confiar” cegamente, se é que isso é possível, mas Deus nos oferece
muito mais do que isso. Ele permite que confiemos nEle como confiamos no pai,
na mãe, no melhor amigo. E por que confiamos nessas pessoas? Simplesmente
porque alguém disse que poderíamos confiar? Simplesmente pelo título que eles
recebem? (Conheço pessoas que não confiam nos pais, apesar de chama-los de pai
e mãe). Deus quer que saibamos Seu nome, que O conheçamos e, por conhece-lO,
confiemos nEle. Ainda quando eu e Ele formos muito amigos, a confiança não será
cega, pois sempre estará baseada em nosso relacionamento e passado. E essa experiência
será muito mais proveitosa do que entrar num tubo de olhos fechados e nunca saber
o que aconteceu lá dentro.
A fé? Depois dos questionamentos e das evidências dadas,
então “creu Abrão no Senhor, e o Senhor imputou-lhe isto como justiça”
(Genesis 15:6).
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