quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

"fez-se surdo"


Não sei se já é tarde ou se ainda dá tempo, mas gostaria de compartilhar um outro olhar antes do natal, ano novo e até mesmo antes do post comemorativo do fim do mundo [sic!].
Esses dias, fazendo minha leitura do #rpsp, deparei-me com uma atitude bastante rara da parte de Saul assim que foi ungido e aclamado rei e aquilo chocou-me bastante, já havia lido antes, mas aquela curta frase ainda não havia me impactado tanto. Por isso gostaria de compartilhar o que aprendi.
O texto de terça-feira, caso você ainda não esteja acompanhando o #rpsp, foi o de 1 Samuel 10, e o verso que tanto chamou minha atenção foi o último, ou seja, o 27. As palavras quase que saltaram diante de mim ao ler que Saul “se fez como surdo” (ARA). Não sei como a NTLH deixou isso de fora, já que, pelo menos para mim, esse foi o ato mais heroico de Saul ao longo do capítulo.
Você conhece a história. O governo de Israel era administrado em nome e pela autoridade de Deus e de tempos em tempos homens inspirados por Deus eram enviados para instruírem o povo, e guiá-lo na execução das leis. Entretanto, o contato com outros povos levou Israel a pedir um rei. Não mais queriam um governo teocrata, queriam que um rei os governasse, independente das implicações que isso trouxesse.
Deus então atende ao pedido do povo e lhes permite ter um rei, mas faz questão de fazer claras as consequências de um rei no comando. O rei é escolhido. Saul, membro da tribo de Benjamim, um dos menores e mais sem importância clãs de Israel. De maneira bastante peculiar Deus atende o pedido do povo, dá a eles um homem que se destacava (dos ombros pra cima se sobressaia em altura), mas também impressiona em Sua escolha improvável.
Vários líderes do povo já tinham suas preferências. Alguns pensavam em eleger seus próprios candidatos que julgavam ser os melhores, mas Deus declara que o novo rei seria aquele jovem que foi capaz de deixar fugir as jumentas de seu pai e agora estava escondido no meio das bagagens por medo! Que escolha, não?!
Não seria de admirar que, apesar de sua formosura e altura, o novo rei não agradasse a todos e assim o foi. Justamente os mesmos que pediram a Deus um rei estavam agora a reclamar. Enquanto que o restante do povo comemorava em vivas, os chamados filhos de Belial consideravam: “Como pode este homem nos livrar?” e o desprezaram. Ah, e não lhe trouxeram presentes.
Finalmente chegamos ao ponto de minhas considerações. Saul era jovem, estava com medo, escondido no meio das malas, sentia o peso que recairia sobre ele, não teve apoio total, sentiu o desprezo de muitos e ainda não recebeu os presentes dignos de um novo rei daqueles que tanto queriam um rei. Pobre Saul. Lembro-me de situações bastante semelhantes na vida de algumas pessoas bem próximas a mim e quase que consigo rever a tristeza em seus olhos por tais circunstancias. Acabo de me perguntar o que eu faria em tal situação e fiquei num tremendo dilema. Não sei se ficaria muito triste a ponto de renunciar o cargo ou se me cercaria daqueles que me apoiaram para acabar com todos os dissidentes.
Bem, não importa muito o que eu faria já que a história em questão é a de Saul. E o que ele fez? Bem, a NVI, VIVA e outras dizem apenas que ele ficou calado. Mas a ARA destaca um ponto muito mais importante, aliás ponto esse que, como disse, penso ter sido o ato mais heroico de Saul. É-nos dito que o jovem rei “se fez como surdo”. Os filhos de Belial não trouxeram-lhe presentes, mas quem precisa de presentes?! Não gritaram vivas, mas que diferença isso faria? Disseram que ele não seria capaz, então Saul se fez surdo. Lembro-me de todas as vezes na minha infância em que, ao ser provocado por alguém que quisesse me irritar, tapava meus ouvidos com as mãos e ficava cantarolando (como se resolvesse) para não ouvir nada.
Há uma série de lendas, com uma série de animais (já ouvi com tartarugas na corrida, formigas no pote de açúcar...) que ilustram bem essa atitude, mas prefiro usar uma história real e que não desprestigia nenhum animalzinho por sua surdez. Ainda ontem ganhamos uma suculenta jaca (suculenta para quem gosta, claro). Minha esposa amou, pois ela gosta muito de jaca. Fato é que há menos de uma semana tivemos a oportunidade de colher algumas jacas e não o fizemos porque nos disseram: “não está em época de jaca, devem estar duras”. Assim, voltamos para casa e nos contentamos com as mangas colhidas. Nenhum de nós questionou o fato de estar ou não em época de jaca, afinal, se não está não está.
Somente ontem fiquei me perguntando: “de onde ele tirou essa jaca? Não estamos em época de jacas”. Acho que ninguém chegou a tempo de avisar nosso vizinho que não estamos em época de jaca e, por isso, ele trouxe várias delas bem ao ponto.
Acho que eu, a formiga surda, ou tartaruga, que seja, revisamos uma lição bastante interessante compartilhada por Saul. Muitas vezes temos de nos fazer de surdos para as criticas e continuar andando. Muitas vezes temos de deixar de ouvir o que nos dizem e continuar procurando jacas maduras. Ou ainda, temos que continuar reinando apesar dos filhos de Belial. Já dizia Tertuliano que “Eles elogiam o que conhecem e criticam o que ignoram”. De maneira que muitos, “para que se pense que são sábios, criticam até o céu” (Fedro).
Claro, é preciso fazer uma pequena pausa e considerar que nem sempre faz bem fazer-se de surdo. Imagino que, se até hoje estivesse me fazendo de surdo para com as pessoas que me alertaram de que não sirvo para cantar, haveriam bem menos pessoas na igreja hoje, e por culpa de minhas músicas! Há boas criticas e todos sabemos disso. Mas há um detalhe importante na história de Saul – ele estava certo de que Deus o havia chamado para reinar. Se Deus te chamou, para a sua obra realizar, não deves olhar para trás, não tenhas medo tudo preparado está. Se Deus te chamou para tal obra, não atente à voz dos filhos de Belial. Assim como Saul, faça-se de surdo e continue reinando, continue correndo, continue subindo, continue... colhendo jacas.

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