quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Acredite, eu sei algo que você não sabe!

Ao programar um evento, um questionamento chamou-me atenção. Gosto de perguntas, gosto de fazê-las e gosto também de responde-las. Questionamentos nos levam a confrontos e confrontos nos levam ao crescimento e maturidade. Por isso sempre as faço.
A questão era: como saberemos se Deus quer que nós vamos? Como saberemos se é mesmo da vontade dEle?
Normalmente tendemos a avaliar de acordo com os resultados e aparências humanas. Se tudo está dando certo e tudo vai bem, então essa é a vontade de Deus. Se passo a passo tudo está se encaixando e cada peça do quebra-cabeças se monta perfeitamente, então Deus está no controle. Avaliamos pensando naquilo que é tangível.
Se a família de fulano é feliz, se prospera nos negócios, se seu trabalho é conduzido com louvor, se a grade da faculdade bate sem problemas e nunca pega uma DP, então Deus com certeza está com tal fulano. Por outro lado, se a família está em crise, a filha mais nova morreu e perdeu o emprego, então algo está errado na vida de fulano e ele precisa fazer as pazes com Deus. Assim, pensamos, assim avaliamos e assim vivemos.
Chocou-me pensar que, talvez, essa não seja a ótica correta de ver as coisas. Tudo vai bem no emprego e isso quer dizer que Deus está conduzindo? É possível, mas e se tudo ir bem for fruto de mentiras? Deus está te abençoando por isso você tem as melhores notas. Será mesmo? Quer dizer que aquele colega que não tirou 10 ora menos do que você? Não sei se afirmaria isso!
Jó era um homem bem-sucedido. Que vida maravilhosa e fantástica! Rico, muitos filhos, muitos empregados, muitos amigos. Sem dúvidas Deus o estava abençoando. Entretanto (digo como quem não conhece a história), algo aconteceu. Por algum motivo Deus parou de abençoa-lo e ele perdeu tudo. Poxa vida Jó, porque você abandonou Deus? O que você fez de errado para chegar a esse ponto? Jó, acho que você precisa orar mais. Você está longe de Deus.
A pergunta feita ontem me intrigou exatamente por isso. Como fracos humanos pensamos: bem, se a comissão organizadora apoiar, se não chover e se todos pagarem a tempo, quer dizer que Deus está conduzindo e guiando. Mas, se algo der errado, então dizemos meneando a cabeça: pois é, não era da vontade de Deus.
Não quero de maneira alguma dizer que Deus não nos dá sinais claros e não fala de maneiras naturais. Longe de mim tal coisa. Mas me pergunto: é só isso? Dá tudo certo e então era a vontade de Deus? Aqueles que, por algum motivo perderam o voo e tiveram a vida poupada são SuperCristãos e os que morreram no avião estavam orando e jejuando pouco? Pobre Jó, deveria confessar algum pecado que ficou oculto. Deveria orar mais e fazer jejuns mais frequentemente.
Mas não é isso que vejo na continuação da história. Pelo contrário, Jó era um homem temente a Deus e que se desviava do mal. Orava por seus filhos e fazia a vontade de Deus mesmo quando tudo e todos (inclusive a esposa) estavam contra ele. Ele estava orando um bocado e jejuando outro tanto, além de adorar a Deus apesar das dúvidas e, apesar disso nem tudo estava dando certo.
Já consegui as devidas autorizações, consegui pagar o seguro, todos toparam. Isso quer necessariamente dizer que Deus está aprovando? Absolutamente! Lembro-me de outras vezes em que nada disso dava certo, mas Deus estava conduzindo e, de alguma forma, deu certo no final. Lembro-me também de alguma outras em que tudo dava certo e aquela não era a vontade de Deus.
Ah, mas Deus não te traria tão longe se essa não fosse a vontade dEle para sua vida. Será que não? Será que é Ele mesmo quem está te guiando?
Quantas vezes olhamos as coisas pelo prisma errado! Como daltônicos olhamos para as cores e elas parecem perfeitamente claras para nós, mas na verdade aquelas não são as cores verdadeiras. Quantas vezes olhamos para a vida cinzenta de alguém com olhos de piedade daquele coitado sofredor e, na verdade, ele estava vivendo a vida em seu melhor matiz porque estava confiante em Deus?
Lembro-me de meu primeiro quebra-cabeças. Ele tinha 500 peças e eu apenas 1% em idade. Minha irmã ganhou um também de 500 peças, mas com um pequeno diferencial: o dela tinha um guia. Um papel que servia de apoio, onde você ia encaixando as peças no lugar certo, consciente do que seria montado. O meu não tinha isso. Precisava ser montado quase que sem saber onde ia cada peça. Assim parecia que nada nunca ia dar certo.
Da mesma maneira a vida parece-nos. Hoje lemos a história do bom e velho Jó, conhecido por sua paciência (se bem que destacaria também outras características), depois de montado o quebra-cabeças. Como uma criança que avança para a última parte do gibi e descobre o fim para então voltar e ler todo o texto, sem importar-se com as aparentes derrotas de seu herói, nós lemos a história de Jó e os leitores mais expressivos e incontidos quase que vibram enquanto leem: continue Jó, não ligue para eles. Eu sei algo que você não sabe! Fique firme. Entretanto, ninguém disse a Jó que no fim tudo ia dar certo.
Porque então em nossa vida fazemos o contrário? Fixamos nossos olhos no aqui e agora e tudo o que vemos são desgraças e terror. Se avançássemos para o fim da história e voltássemos a rele-la enquanto vivemos, sempre que feridos diríamos: fique firme, eu sei algo que você não sabe. Se tivéssemos o molde para colocar o quebra-cabeças em cima diríamos: você está no caminho, continue. Mas não temos, e assim ficamos olhando para nossa vida como os amigos de Jó. E o que é pior, ficamos olhando para a vida dos Jós modernos e fazemos o papel dos amigos dele, acusando-o de que se ele não passou no vestibular é porque tem orado pouco.
Estou aberto para novas perguntas e confrontos, mas desconfio de que ainda não tenho a melhor resposta para a pergunta inicial. Como saber se é essa a vontade de Deus? O que posso dizer é que, o fato de nem tudo estar dando certo não quer necessariamente dizer que isso é uma aberta e clara desaprovação divina. Me arrisco também a dizer que parte da solução para essa intrigante questão é perguntar a Deus o que Ele acha. Isso mesmo, não apenas o que a comissão, amigos e cônjuge acham (muito embora na abundância de conselhos haja sabedoria), mas primeiro e durante todo o processo pergunte o que Deus acha. Foi isso o que Jó fez. Apesar de se defender, não ficou questionando os amigos: ”ah, será mesmo que é por isso?” Não. Ele foi direto a Deus, o fabricante do quebra-cabeças, o cartunista dos quadrinhos, o autor da história e perguntou diretamente a Ele.
Que tal colocar novos óculos, deixar de ver a vida tão cinza e despertar o olhar para o colorido matiz que Deus te dá? Que tal elaborar novos meios de descobrir a vontade de Deus através de uma intima amizade com Ele? Que tal confiar quando nem tudo vai tão bem e não acusar outros de estar desempregados por falta das 40 madrugadas?
Tenho buscado olhar dessa forma e acabei de encaixar mais uma pecinha do quebra-cabeças. Ainda não sei bem o que vai dar no final, mas acredito que todas vão se encaixar. Mas se não se encaixarem não tem problema, eu sei algo que você não sabe!

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