“Mas importa que Ele cresça e que eu diminua.” (João 3:30)
O público espera expectante. Todos os assentos estão
ocupados. Os ingressos foram comprados antecipadamente. Ninguém queria perder a
aparição do seu grande ídolo.
A abertura acontece, a cortina se abre e um único holofote
ilumina o solitário microfone ao centro. O efeito mágico do gelo seco precede a
grande entrada do esperado artista que se apresenta como se ali estivessem sua
futura esposa e o presidente da República, mas ao mesmo tempo como se não
houvesse ninguém ali.
Mas espere. Há uma multidão de fãs gritando e delirando,
como pode ter a sensação de não ter ninguém ali? Apesar dos gritos histéricos
da plateia, ele não consegue ver nenhum daqueles maquiados rostos que ali
estão.
Acontece que, para ser visto naquela glamourosa noite tudo
foi milimetricamente projetado. O som, as luzes e... Os holofotes. Os holofotes
que agora iluminam o espetáculo cumpre bem o papel de mostrar quem é o rei,
quem é a atração, quem é o ídolo. Mas acaba por esconder toda a eufórica plateia
que o serve. Ele disfarça olhando para frente, fixando o olhar no nada, no
além, no infinito, para que não percebam que ele não consegue ver aquela mulher
que tem seu nome tatuado no braço esquerdo ou aquela outra que esperou dias
para comprar o ingresso ou ainda aquela que deu seu nome ao terceiro filho por
amá-lo.
O brilho que o ilumina ofusca todos ao seu redor. Enquanto
ele estiver sob os holofotes não será capaz de ver com quem está falando, muito
menos de relacionar-se com elas.
Essa história se repete a cada espetáculo, a cada
apresentação, a cada post no Facebook a
cada tentativa de provar o quão brilhantes somos.
Quantas vezes nos colocamos sob os holofotes do sucesso, da
popularidade, das curtidas e do status apenas para sermos vistos?!
Vamos para a batalha e ficamos esperando que as mocinhas da
corte nos recebam cantando dos milhares que matamos. Doamos e ficamos esperando
os flashs e aplausos. Sim, você merece ser reconhecido. Você merece as palmas,
mas ainda consegue ver quem está por trás dessas mãos que se tocam rapidamente
por você?
Ao olhar para frente consegue ainda ver com quem está
falando ou tudo o que vê é uma luz muito forte e brilhante que te mostra onde
você chegou?
Um grande homem, acostumado com os aplausos, acabou
tornando-se cego para entender o quanto os holofotes ofuscavam sua visão.
Enxergava as pessoas como números e contabilizava cada vitória como sendo mais
uma. Voltando para casa em seu cavalo comemorava a morte de dezenas de
desconhecidos. O nome deles não importava. Quanto menos nomes sabemos, mais o
nosso se destaca, pensava ele. Mas ao cair do cavalo, ao descer do palco, aos
se apagarem os holofotes, quando entendeu quem de fato era não teve outra opção
a não ser declarar: “Porque eu sou o menor dos apóstolos, que não sou digno de
ser chamado apóstolo, pois que persegui a igreja de Deus”.
Os holofotes celestiais foram também desligados quando o
Maior, o mais Poderoso, o Líder e Dono de todas as coisas se fez Servo e disse:
“vocês estão discutindo pra saber quem é o maior? Eu sou o Maior e vejam onde
estou: abaixado lavando os pés de vocês”.
Sim, Ele preferiu relacionar-se do que brilhar. Com os
holofotes em seu rosto, sua visão seria impedida e Ele não poderia ver com quem
estava falando, muito menos relacionar-se com as pessoas. Chamar cada uma pelo
nome ao invés de ter seu nome escrito entre as estrelas. Andar nas ruas
empoeiradas no lugar de deixar suas pegadas na calçada da fama. Ele não queria
os holofotes, mas preferiu ser a Luz.
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