Desde criança, sempre achei que levava jeito para cientista.
Adorava desmontar tudo, ver como funciona e montar novamente (nem sempre dava
certo!). Lembro-me bem de algumas broncas por destruir meus brinquedos, mas a
verdade é que nunca os destruía, o que acontece é que nem sempre conseguia
deixar igualzinho antes. Construí várias coisas também. Não há como esquecer o
dia em que desmontei um carrinho de controle remoto (que pela bronca, imagino
que não tenha sido tão barato) para colocar o motor em um robozinho de sucata
que eu mesmo fiz. A invenção era genial, mas os adultos não pensavam assim. Mas
o meu maior prodígio mesmo foi desmontar o motor. A curiosidade foi tanta que
desenrolei todo o fio do dínamo para ver como funcionava. Eu tinha sete anos e
você já deve saber se consegui ou não refazer o dito motor. Fato é que o motor
não funcionou mais e o brinquedo perdeu a graça.
Mais de uma década depois fui ter meu primeiro carro e, apesar de
seu motor não ser elétrico, pensei
muitas vezes antes de me atrever a desmontar o motor. Talvez depois de minha
aposentadoria eu volte a brincar com motores e tente coisas maiores, no momento
preciso dele movendo o carro.
O que não entendo é como o motor (ou a falta de assistência a ele)
pode ser o culpado por problemas no funcionamento de outras peças do carro.
Afinal, é apenas o MOTOR!
Linguistas associam a etimologia da palavra motivação aos termos
motivo e motor. Por definição, então, a motivação é o motor que está dentro de
nós e nos move. Tudo o que fazemos é motivado por algo e nem sempre a motivação
é condizente com a atitude.
Aos sete anos entendi o básico sobre o dínamo: o carrinho não se
moveria sem ele e aos treze descobri no carro do meu pai que não dá pra ir
muito longe com o motor fundido (dessa vez a culpa não foi minha). Mas foi bem
recentemente que descobri que ninguém vai a lugar algum sem a motivação que nos
compele. Descobri também, pela experiência de um amigo, que um carrão sem motor
chama bastante atenção, mas não vai muito longe, enquanto que meu Uno 92,
apesar de velhinho, ainda tem um motorzão.
Pois é, o motor faz a diferença e não a carroceria. E, no fim das
contas, é a qualidade do motor que vai garantir a viagem. Mas nós estamos
sempre olhando para o exterior sem pensar no motor.
Um velho profeta descobriu isso já no final de seu ministério.
Descobriu não só que estava olhando para o lugar errado, mas que Deus olhava
para a força propulsora por trás das atitudes. Ele tinha de ungir o novo rei e
foi orientado por Deus a procura-lo na casa de Jessé.
Um a um os potenciais futuros reis entraram na presença do velho
Samuel. Ao ver o primeiro, que era também o mais velho, o profeta pensa ter
completado sua missão, pois aquele, com certeza, seria o futuro rei.
Entretanto, a voz de Deus começa a mostra-lo que a motivação é o mais
importante no Céu. “Eu não tomo decisões
como você. Os homens julgam pela aparência exterior, mas Eu examino os
pensamentos e as intenções do homem” (I Samuel 16:7, BV).
Samuel – disse Deus – você está olhando apenas para a aparência,
eu vejo o coração. Você está vendo apenas as atitudes, eu vejo a motivação por
trás delas e é isso o que vale para mim. Séculos mais tarde, o mesmo Deus diria
a mesma coisa de uma viúva pobre que fez uma coisa muito pequena motivada por
um enorme desejo de agradecer, em contraste com homens que faziam grandes
coisas movidos pela mediocridade que a arrogância proporciona. Nas palavras de
Jesus “"Aquela viúva pobre deu mais do que todos aqueles ricos juntos!”
(Marcos 12:43, BV). Como assim?! Ela deu mais que os outros?! Sim, pois sua
motivação era grandiosa, e a dos homens ricos era medíocre.
Parece-me então que a promoção na empresa não é necessariamente
algo louvável. Ser o primeiro não quer necessariamente dizer ser o melhor. E
ser o melhor também não quer necessariamente dizer ser o melhor. “A aprovação
do Mestre não é dada por causa da grandeza da obra realizada, mas em virtude da
fidelidade em tudo quanto foi feito. Não é o resultado que atingimos, mas os
motivos por que procedemos, que têm valor para com Deus.” (Obreiros Evangélicos, 267), veja ainda: “Não
é pelas riquezas, educação ou posição que Deus avalia os homens. Avalia-os pela
sua pureza de intenção e formosura de caráter.” (A Ciência do Bom Viver, 477).
Chocante! Deus (ao contrário dos homens) não irá te avaliar por seus resultados
ou grandeza da obra realizada, não avalia seus esforços pelas medalhas alcançadas,
nem avalia seu sermão pela quantidade de pessoas que levantaram-se, nem mesmo
avalia seu blog pelo alcance que ele tem, o Senhor pesa suas motivações e, no
fim das contas, é isso o que fará a diferença!
O Clube do
Imperador (2002) conta de um pequeno internato onde os alunos recebiam não
apenas orientação acadêmica, mas também a prática. A rotina do sábio professor
de história grega Sr. Hundert é interrompida pela chegada de Sedgewick Bell, o filho de um influente senador. O jovem
Bell vê a vida como um jogo a ser vencido e as pessoas como peças para leva-lo
a vitória. Infelizmente, para Sedgewick Bell, ele descobre que nem todos estão
à venda. Chamou-me a atenção no filme o fato do adolescente rebelde tornar-se
um homem bem sucedido assim como seu pai (exatamente como seu pai!) e oferecer
uma festa para reencontrar todos os ex-alunos da St. Benedict's. Por fim, o
filho de Bell descobre as reais motivações de seu pai e quão trapaceiro ele
era. Para toda a sociedade, um grande homem, mas para seu antigo mestre e agora
para seu pequeno filho que sepulta um herói ele era um trapaceiro. O conceito
de qual grupo era o mais importante?
Estou certo de que Davi não era mais feio ou fraco que
seus irmãos, aliás I Samuel 16:12 nos diz que ele "era um rapaz de bonita
aparência, rosto corado, olhos muito vivos." (BV).Isso me leva a pensar que
nada o fazia inferior a seus irmãos, mas o seu coração é que o fazia superior a
eles, e foi para o coração que o Senhor olhou.
Todos os dias ao tomar pequenas decisões pergunto-me: Por
que estou fazendo isso dessa maneira? Fazer coisas boas por motivações errada
também está errado. O próprio Jesus em seu brilhante Sermão da Montanha acusou
os fariseus de dar esmolas, orar e jejuar. Não havia nada de errado em dar
esmolas, o problema estava no servo que era pago para tocar a trombeta chamando
a atenção e todos exatamente no momento em que o pomposo fariseu dava a esmola.
Jesus incentivou diversas vezes a oração, mas agora estava condenando-a, por
quê? Não era mal orar todos os dias no mesmo horário não importa onde
estivesse, mas se tornou medíocre o hábito de planejar estar num lugar de
relevante movimento exatamente no horário previsto para horar, chamando a
atenção de todos. Que mal havia no jejum? O próprio Jesus jejuou por 40 dias!
Mas qual a motivação que os levava a vestir-se de falsa piedade, deixando a
barba por fazer, o cabelo por pentear e a roupa por lavar? (ver Mateus 6.1-18)
O que te motiva? Qual força te propulsiona a fazer as
grandiosas coisas que você tem feito?
Posso desmontar seu motor e ver como funciona por
dentro?
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